sábado, 25 de fevereiro de 2012

Entrevista com Wayne Hussey (The Mission): “Tem sido muito bom ouvir as músicas com o tom original novamente”

Foto: Cinthya Hussey
Por Márcia Raele

Piracicaba sempre foi muito quente, mas aquele dia parecia
que o sol estava ainda mais perto de nós. Um antigo engenho construído no
século XIX às margens do rio – hoje um patrimônio histórico e cultural da
cidade – foi o local escolhido por Wayne Hussey, vocalista do The Mission (UK),
para nossa entrevista, na terça-feira de Carnaval. O grupo, que está celebrando
seus 25 anos, fará show em São Paulo no dia 27/05, e talvez na região de
Campinas (Red Eventos – Jaguariúna) e Curitiba, em datas a serem confirmadas. Wayne
está morando no Brasil já há alguns anos – é casado com uma brasileira – e,
apesar de um pouco mais velho, não perdeu o estilo rocker com diversos brincos
na orelha, calça jeans, camiseta preta e seu tradicional óculos escuro.
Após 50 anos de idade, disse que fez sua primeira tatuagem: uma patinha de
cachorro e o nome Babi, uma Cocker Spaniel de sua esposa. “Ela era cega por causa
do diabetes e eu adorava jogar futebol com ela porque eu sempre ganhava”,
comenta sorrindo. “Mas ela faleceu há três anos”. Passeando por galpões em
ruínas e a ponte sobre o rio Piracicaba, conversamos sobre os próximos shows na
América Latina e também sobre algumas curiosidades que eu tinha sobre eles há
cerca de 25 anos.

Quais suas expectativas sobre os próximos shows aqui na América do
Sul?

Wayne Hussey – As turnês na América do Sul são sempre muito
loucas e cheias de eventos interessantes e acontecimentos inesperados. Mas o público
é sempre maravilhoso. A última vez que fizemos show aqui no Brasil foi em 2002,
e por isso estamos bem ansiosos.

Essa turnê é para celebrar os 25 anos da banda, certo? Qual a diferença
de tocar hoje em relação a quando vocês começaram em 1986?

Wayne Hussey – Antes eu tinha mais cabelo e menos corpo [risos]. Em 1986, não imaginávamos chegar aos 25 anos de história. As músicas da época eram bem diferentes, tínhamos recursos diferentes. Mas nunca pensamos em viver este momento, o que é uma grande emoção.

E a emoção do público nos shows do The Mission, continua igual?
Wayne Hussey – É sempre grande. Mas não que o público tenha
aumentado em todos esses anos, não temos um público novo. O que aconteceu é que
nosso público foi crescendo com o The Mission.

E uma curiosidade minha: por que The Mission? Existe algo religioso em
tudo isso, algum recado a ser dado ou uma “missão”?

Wayne Hussey – Não exatamente. Mas certamente se você me
perguntasse isso naquela época eu iria inventar algo, porque era como minha
cabeça funcionava naquele tempo. Mas, uma das coisas que aprendi com os anos,
foi que as coisas não precisam de respostas. As músicas que cantava eram sobre
situações e o que eu sentia naquele exato momento, mas não que existisse uma
razão ou algum recado a ser dado.

E o símbolo do The Mission [espécie de cruz com símbolos de infinito
entrelaçados], tem algum significado especial?

Wayne Hussey – Eu roubei dos franceses. Os ingleses não gostam muito dos franceses, então eu roubei o símbolo dos franceses [risos].Este era um símbolo que tinha em cima do chapéu da guarda civil francesa, aquela que costuma salvar as pessoas de enchentes.

Você queria salvar alguém?
Wayne Hussey – Talvez, eu mesmo.

Voltando aos shows, o que o público pode esperar? Já existe um set list
definido?

Wayne Hussey – Ainda não, mas sabemos que o público quando vai aos nossos shows querem ouvir os sucessos, como Severina, Tower Of Strength, Butterfly on Wheel.
Sempre existem as músicas novas a serem tocadas, mas pela nossa experiência,
sabemos que se não tocarmos os sucessos as pessoas fogem para o bar.

Desde quando o The Mission voltou a tocar com a formação original, e
como tem sido?

Wayne Hussey – Começamos em outubro de 2011 [iniciaram a
turnê pela Europa], para a celebração dos 25 anos da banda, e tem sido muito
bom. Ao longo dos anos, eu deixava os músicos convidados bem à vontade para
tocarem dentro dos seus estilos, e agora com a nossa formação tem sido muito
bom ouvir as músicas com o tom original novamente.

E é difícil morar no Brasil e ter o resto da banda em outro país?
Wayne Hussey – Não. Hoje, pelas facilidades da Internet é
muito tranquilo. Há pouco tempo fiz uma gravação inteira de um álbum com
Julianne Regan [ do All About Eve ] totalmente via e-mails.

Conte-me um pouco sobre esse projeto com a Julianne, chama-se
Hussey-Regan, certo?

Wayne Hussey – Julianne e eu nos conhecemos há muitos anos,
desde o tempo do disco God’s Own Medicine [ela é a voz feminina de Severina],
então acho que seria natural que um dia fizéssemos algum trabalho juntos. E foi
bem natural mesmo, sem pressões de prazo. Muito gostoso.

E podemos esperar um novo trabalho do The Mission?
Wayne Hussey – Bem... nós estamos pensando a respeito para o
próximo ano. Mas por enquanto é só isso, um pensamento. Não queremos firmar
planos, mas estamos gostando muito dessa ideia de tocarmos juntos novamente, e
se continuar assim acho que será natural gravarmos um novo álbum. Vamos ver...

[Mais sobre o The Mission abaixo e em themissionuk.com ou The Mission XXV,São Paulo,Brasil]


Deuses ou Homens?
Temos um estranho comportamento de endeusarmos alguns tipos
de artistas. Os cantores são um deles, ainda mais se forem internacionais e com
alcance de público imenso. Isso aqui no Brasil toma, às vezes, proporções
exageradas devido à nossa cultura mais amorosa e calorosa em sentimentos. Mas
esquecemos que atrás de poses, vozes, interpretações existem pessoas como outra
qualquer, talvez apenas um pouco mais famosa ou rica. Não me excluo desse
sentimento e sempre tive grande admiração – e por que não “embasbacamento”– por
muitos grupos/cantores de rock. O The Mission é um deles, o qual conheci quando
tinha 12 anos apresentado por meu irmão Du (sempre ele): “Tina, esse é o The
Mission. O vocalista e o baixista saíram do Sister´s Of Mercy e montaram o The
Mission”.
Pronto! Foi o suficiente, principalmente após ouvir
Severina, Tower of Strenght e Wastland, para fazer uma ligação maluca em minha
cabeça - irmãos da misericórdia, a
missão, God´s on Medicine (nome do primeiro disco) – de algo realmente divino
no sentido literal ou simplesmente por ser muito bom. Real ou não, intencional ou não, suas
músicas, vestes e símbolos sempre foram uma referência para mim. E hoje, 25
anos depois, tive a grata oportunidade de rever alguns detalhes sobre tudo
isso, ou pelo menos matar algumas curiosidades, como “qual o significado do
símbolo do The Mission?”, “Por que The Mission?”. Não que a resposta dada tenha
mudado algo em meus sentimentos por suas músicas, mas ouvir da boca da própria
pessoa que a criou foi algo bastante esclarecedor. Afinal, não estamos mais em
1986, e não tenho mais os sonhos da época. Mas pude encontrar com alguém que
fazia parte deles, e ver que ele é uma pessoa real. Talvez ele possa representar um elo entre nós e Deus (afinal ele é um cantor, e não é essa a função original da música?), quem sabe?
Aqueles que irão às apresentações que o Mission fará
no Brasil – já confirmada a de São Paulo, no dia 27/05, no Cine Joia – com certeza
dividirão esse mesmo sentimento. Um dos ícones da geração gótica nos anos 80, a
banda sempre arrastou multidões por onde passava pelo mundo. Hoje, sem tantas vestes
pretas e com cabelos mais curtos e grisalhos, Wayne Hussey, Graig Adams e Simon Hinkler deverão fazer um show de celebração. Afinal, são 25 anos de banda, fato que, como o próprio vocalista comentou, não esperava acontecer. “É uma grande emoção. Não imaginávamos chegar até aqui. Está sendo muito bom ouvir as músicas com o tom original”.
Após uma conversa tranquila com ele e sua simpática esposa, não
pude deixar meu lado fã à parte e pedi um autógrafo para meu vinil God´s Own
Medicine (Remédio dos Deuses, que remete à morfina – santa morfina que tirou as
dores da minha cesárea : ) ). Não sei se foi apenas para fazer uma alusão ao
contexto do disco, (cheio de dizeres sobre fé) ou não, mas Wayne escreve: “Márcia,
mantenha a fé”.

A fé está mantida e a tempestade que caiu logo após nos
despedirmos comprovou tudo isso para mim.

4 comentários:

Serzimmer disse...

Muito legal!! Parabéns pela entrevista!! Eu conheci o Mission quando tinha 15 anos, em 1986, quando ouvi Severina na rádio, e via a propaganda de God's own medicine na finada TV Manchete. Não deu outra comprei o vinil e virei fã. Junto com Cure, Echo & the Bunnymen, U2, Pink Floyd, são minhas bandas preferidas e que marcaram a melhor fase de minha vida, a adolescencia. Hoje minha filha de 5 anos ouve tudo isso de tabela comigo, e espero que cultive o bom gosto pela música. Sou de Itajai, SC, e estou pensando seriamente no show do mission em sp em maio, tomara que dê certo, abs.

Done Zine disse...

Olá, Serzimmer! Que bom que tenha gostado. Poder continuar ouvindo essas músicas e ainda dividi-las com a família é um privilégio. Venha pra SP, sim. Vai valer a pena, com certeza! Abraços

ana claudia disse...

Eu queria um dia poder dar um abraço com todo respeito nesse cara. eu tinha uns 15 anos quando conheci o The mission, e eu tinha uma depressão ferrada, e eu nunca tomei um comprido se quer, eu ouvia as musicas deles , eu me acalmava, eu viajava por castelos sombrios,lugares estranhos nevoentos, eu fechava os meus olhos e sumia na minha egotrip, mas sem nenhuma substância alucinógena, só a musica.. e me acalmava,eu entrava num nirvana, parecia alcançar o céu, e meus pensamentos de suicidio, de sumir de morrer ia pro ralo, acabava e eu ficava bem, e foi assim por muito tempo...me curei da depre...pra mim foi o remédio certo, aquelas musicas lindissimas, aquela voz poderosa do wayne. ah eu juro se eu pudesse eu um dia eu agradeceria esse cara, o quanto ele e a banda foram importantes pra mim.só tenho que dizer obrigada. amo eles de coração.

Done Zine disse...

Bacana, Ana Claudia. Lhe entendo bem.. : )
Vou tentar repassar seus comentários a eles. Abraços